domingo, 11 de setembro de 2011

Um panorama sobre o Reggae


Caro leitor, é natural a associação deste ritmo genuinamente jamaicano ao cantor de mesma naturalidade - Bob Marley. Mas, talvez, para a sua surpresa este estilo musical não resume-se apenas a estrela maior do cenário mas também não é estendida à um leque muito grande de artistas.

Se falarmos sobre os anos 80 por exemplo, apesar da pluralidade de intérpretes as bases musicais são creditadas à pouquíssimos músicos. Por uma particularidade bem regional, o poder econômico da pequena ilha caribenha não permitia que várias pessoas pudessem comprar seus próprios instrumentos e cada conjunto musical possuir seus músicos exclusivos. Isto criou uma cultura em que os donos de estúdio eram aqueles quem possuíam os instrumentos e por consequente contavam com uma banda fixa e para todos aqueles intérpretes que gravavam naquele determinado estúdio eram legados à base musical dos artistas fixos.

Nos anos 60 o produtor Lee Perry, tinha o seu próprio estúdio e a sua própria banda: The Upsetters que contava com Gladstone Anderson, tecladista, Alva Lewis, guitarrista, Glen Adams, no órgão e os irmãos Aston 'Family Man' Barrett e Carlton Barrett no contra-baixo e bateria respectivamente e eram responsáveis por toda a produção artística daquele estúdio.

Aqui abaixo uma amostra do som que os Upsetters destilavam:





Veja você que a sonoridade é praticamente a mesma, pois claro, são os mesmos músicos trabalhando em regime fabril.
Parte dos músicos que compunham os Upsetters deram origem mais tarde a banda mais bem sucedida do Reggae internacional, The Wailers. As informações sobre este grupo são massivas e até criaram uma aura de perfeição musical que este blogueiro discorda, outras bandas são tecnicamente superiores ao conjunto Wailers salvo a individualidade de Family Man e de Charlton com o seu 'One Drop' (A batida característica da bateria em que assemelha-se ao som de uma gota pingando). Falando da maior banda de Reggae de todos os tempos, ou pelo menos a tecnicamente melhor: The Roots Radics.

A Roots Radics não alcançou o sucesso dos Wailers unicamente por não estarem ligados à um intérprete diretamente. Eram e são uma banda independente com uma sonoridade impar liderados pela Lenda Errol 'Flabba' Holt.


Praticamente todos os Reggaes gravados na ilha nos anos 80 tem a participação da banda registrada principalmente com Gregory Isaacs, Eek A Mouse, Israel Vibration e Bunny Livingston. A atmosfera do som é fascinante, como se algo misterioso habitasse o bosque cheio da neblina branca, acompanhado do Contrabaixo marcante de Flabba Holt que ficar sem ar quem o escuta pela interferência das ondas sonoras no diafragma. O jogo de teclados e orgãos fascina porque parecem imperceptíveis e inúteis, mas revelam todo balanço rítmico nas pausas estratégicas promovidas pelo engenheiro na mesa de som.



Gregory Isaacs & Roots Radics - Heartache



Bunny Wailer & Roots Radics - Dance Rock



Eek A Mouse & Roots Radics - Ganjah Smuggling



Ronnie Davis & Roots Radics - No More Darling



Além da espetacular Roots Radics, não poderiam ficar de fora a Fully Fulwood Band que acompanhou Big Youth, Freddy Mcgregor e Delroy Wilson:




Big Youth & Fullwood Band - S-90 Skank



Dennis Brown & Fullwood Band - Silver Words




Para o próximo capítulo, falaremos sobre a Solar System, Word Sound and Power e Sly & Robbie.
A priori é possível concluir que o Reggae agoniza, todos estes músicos já estão no crepúsculo da idade e contra a foice do tempo é vão o combate. Irá com eles todo o talento e a inovação que criou o Reggae.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Eu não sou cachorro não - Música brega e Ditadura Militar


Acabei de ler o livro do meu conterrâneo Paulo César de Araújo.

Confesso que passei a olhar com outros olhos e ouvir com outros ouvidos a música dita brega no Brasil, principalmente aquela produzida nos anos de chumbo na história da nossa República. O Livro 'Eu não sou Cachorro Não - Música Popular cafona e Ditadura Militar' traz o panorama da música nacional naquele período sobretudo a musica verdadeiramente Popular brasileira, aquela feita pela parcela maior da população, exprimindo seus sentimentos e o senso comum compartilhado por aqueles brasileiros.




Se você não vê a excelente cultura e os costumes do seu próprio país e abre as pernas pro que os outros lhe impõe sem camisinha ou vaselina como o Tio Sam sempre quis*, saiba que estes intérpretes, compositores e acima de tudo lutadores foram tão ou mais combativos e sofreram tanto quanto os cantores ditos de elite com o chicote da censura.




No dia em que a Ditadura completou 13 anos, um desses cantorezinhos gravou um single aparentemente inofensivo, mais um bregão que passaria despercebido não fosse o recado oculto e rapidamente assimilado pelos altos calões do governo:





De quebra ainda podemos citar o cantor Geraldo Vandré, compositor de 'Pra não dizer que não falei das flores' o cantor foi totalmente identificado com a luta democrática assim como Bob Marley foi relacionado à Cannabis, porém um caso não tem nada à ver com o outro na realidade. Vandré não tinha intenção nem tampouco tinha vocação de líder revolucionário, queria apenas promover a sua música como Mano Brown por exemplo e entrou em surto com a responsabilidade que herdou.



Compre o excelente livro aqui. O autor é o mesmo que teve sua obra sobre a Vida de Roberto Carlos proibida, recolhida e incinerada como nos tempos do chumbo grosso.

domingo, 28 de agosto de 2011

Roberto Carlos, Funk e Tim Maia

Não é possível agradar aos árabes. Tampouco aos brasileiros, avalie aí todo artista - que esteja vivo, pois esta é a prerrogativa principal - que nasceu acá nas Terras de Santa Cruz que obteve qualquer exito musical acima da média que sempre tem um que critica. Se a mídia adotar o cara então, segura, você ouvirá o cara no café, no ônibus, no jantar e na hora de dormir será embalado pela sua melodia. Nos tempos atuais não há melodia, não há sonoridade, não há sentimento envolvido no negócio. Só há negócio exatamente porque a galera que consome nem sabe porque e é esse que rechaça os grandes talentos nacionais. Em um tempo onde Beatles e Rolling Stones dominavam o cenário mundial, tenha certeza que se Roberto Carlos tivesse nascido em território Anglo-saxão, seu primeiro sucesso 'I Wanna Everything Go to Hell'  teria incendiado o mundo todo (refiro-me ao Single 'Quero que vá tudo para o Inferno' de 1966).

Roberto Carlos braga nasceu em Caichoeiro do Itapemerim lá no Espirito Santo e foi no Rio de Janeiro na década de 60 que alcançou sucesso comercial na metade desta década impulsionado pela carência cultural que vivia o mundo pós-segunda-guerra mundial e pela chegada da Televisão. Foi nesta mesma época que os rapazes de Liverpool tomavam o mundo também da mesma forma e só depois da estável posição de ídolo incontestável e do dinheiro jorrando por conta dos direitos 'imorríveis' é que os mesmos músicos conseguiram impor os seus desejos musicais.

Eu particularmente desgosto da fase de Roberto Carlos em seu período de aplicação prática e liberdade composicional, diferente dos senhores de Liverpool que evoluíram para uma música internacional e bem elaborada, onde preferiu seguir uma linha mais suave e assumiu uma posição de Frank Sinatra ou Julio Iglesias, sendo um grande Crooner e comercialmente muito bem sucedido.


Falando dos tempos que me agradam, o LP 'Em Ritmo de Aventura' e o Seguinte 'O Inimitável', são discos muito bem elaborados, com destaque para o Orgão de Laffayette e a troca de olhares entre Roberto e o Funk americano que foi evoluindo nos discos seguintes como pode ser observado neste sucesso de 1969:




Excelente jogo de metais nas respostas (Sax, Trombone e trompete), o backing vocal sutíl e a guitarra seca bem semelhante à de Peter Tosh em 'Stir It Up'  que só foi produzida no verão de 1972 na inglaterra e o swing de um contrabaixo marcado como em 'Não Vou Ficar'.

Esta música tem uma história interessante: No começo da década de 70, o síndico - Ele mesmo, Tim Maia - era um antigo conhecido de Roberto desde os tempos da banda Sputnik, na qual Roberto era o guitarrista que acompanhava Tim Maia nos vocais. Depois de morar alguns anos fora do país, onde perdeu todo o principio do programa Jovem Guarda da TV Record, Tim encontrou toda a sua antiga turma dos tempos de infância do Rio de Janeiro fazendo sucesso nas terras da garoa, ganhando dinheiro e pegando menininhas.

Esperto como era, quis logo participar da divisa do bolo. O pedaço de Tim demorou pra ser oferecido e quando este chegou veio amassado por Baalzebul, Mefistófelis, Azmodeus e toda a turma do exército daquele que carrega a luz. Passou meses tentando falar diretamente com Roberto Carlos, em vão, morando de favor com amigos sendo e sentindo humilhado. Em um desses favores, chegou a morar com o cantor paraguaio Fábio, em épocas do auge do Iê-Iê-Iê o que valia a Fábio inúmeros encontros amorosos em seu apartamento, cujo Tim aproveitava o sofá e nunca pegava ninguém devido à sua obesidade, negritude e principalmente anonimato. O amigo de Tim ainda pedia as suas groopies  que só de favor dessem um pouquinho à Tim, pedido que era automaticamente rejeitado por conta dos detalhes que citei acima.

Essas situações renderam a música 'Azul da Cor do Mar' 'E na vida a gente tem que entender/Que um nasce prá sofrer/Enquanto o outro ri..'.


Nas perseguições ao Roberto, Tim conseguiu falar com Nice (Que era a senhora Roberto Carlos na época) e que se sensibilizou com a história do síndico. Nice convenceu Roberto à gravar alguma música de Tim para ajudá-lo, mas Roberto não quis gravar a música oferecida, 'Você' (Você/É algo assim/É tudo pra mim), por ela já ter sido gravada por Eduardo Araújo, anos antese se comprometeu a gravar qualquer música que Tim compusesse desde que ninguém houvesse gravado-a antes. E assim foi, na volta pra casa Tim compôs 'Não Vou Ficar' e despertou a fase Harlem de Roberto Carlos e uma nova página em sua carreira:






o Brejo do Cruz, Psicodelia e Surrealismo




É meu caro rapaz, ou rapariga ou moça cá na Ilha de Vera Cruz, estava aqui agradecendo ao Cosmo por este cara ter nascido no finalzinho da safra mais talentosa que houve no mundo. Sim, na já gasta segunda guerra mundial, as bombas de Hiroshima e Nagazaki juntamente com os projetos secretos de Hitler desencadearam uma série de eventos que Poincaré assinaria em baixo dando fé a Teoria.

Agradeço porquê se tivesse nascido depois deste tempo, provavelmente não teria aproveitado a fonte musical que jorrou nesta época ou ainda perderia espaço para o cantor-padrão-moderno:

Bonitinho e sem talento algum.

Mas graças aos mesmos eventos que garantiram a natividade no exato momento necessário, podemos apreciar todo o talento, sentimento e porquê não a atmosfera musical de Zé Ramalho.



Tenho fé que os anos irão se passar, mas que no fundo teremos ainda aquela velha certeza. Sim caro leitor, aquela mesma ideia no cume do olho de sair do poço, assim mesmo como estamos, bem na garganta do fosso. E sair dela na voz de um cantador.
Assim falou Zé Ramalho, nos terreiros da usina, na velha pedra de turmalina que guarda os segredos de Brejo do Cruz


Escute aqui uma das minhas músicas preferidas deste senhor, preste atenção no contrabaixo trabalhando como diríamos no Reggae, amassando o barro enquanto orgãos e violinos reproduzem o som das rabecas e compõe o cenário perfeito para uma música tipicamente única!



Uma música que caberia facilmente em um quadro de Salvador Dali, caso os quadros fossem dotados de sonoridade.
Caso uma música pudesse transformar seus sons em imagens, tenha certeza que veríamos um quadro surrealista cheio de símbolos e de desenhos compostos que se revelariam em cada vez que o víssemos.



Zé Ramalho e as Falas do Povo:



Falo da vida do povo

Nada de velho ou de novo

Em velhas mansardas, mansões e motéis

Os homens planejam os seus carretéis
Novelos e linhas, labirintos e ruas
As mulheres e luas são pedaços da noite
Vizinhos avisam, prezam seus anéis
O custo da vida, um conto de réis
Apitos de fábrica ressoaram de novo
Alegria do povo é sambar e sonhar

Falo da vida do povo

Nada de velho ou de novo...

Em feiras distantes, romeiros fiéis

Desfiam seu canto, velhos menestréis
Pelejas e lutas, esperanças de novo
Ninguém pede socorro nem se afoga no mar
Mendigos e risos, os ferrões do amor
Novamente os risos, os leões, domador
Acertaram no alvo, acertaram no negro
Descobrir o segredo de sorrir e chorar

Falo da vida do povo

Nada de velho ou de novo...



o Mistério do Pavão

Qualquer dia eu mudo o nome desse blog para 1945. Outro exemplo que nasceu neste período e que foi dotado pela excelência do talento musical.

Aqui a apresentação do Cearense Ednardo no Fantástico em 1976. Um som extremamente criativo, ao mesmo tempo inovador e conservador juntando o rítmo oriundo do agreste nordestino com a pluralidade sonora nos anos 70, aliado à uma letra emblemática, simbólica que casa perfeitamente com o clima misterioso da melodia.

Senhoras e senhores, com vocês, Ednardo:


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Digam: bem vindo!

Caros leitores fiéis deste blog, tenho a honra de apresentá-los o Hammer Head. O Cara falará sobre todo o mundo das guitarras pesadas, dos bumbos duplos e de toda a sonoridade metálica contida em um dos sons mais bem sucedidos no nosso orbe telúrico.

Bem vindo Hammer!!!



Dust - Hard Attack 1971


Há uns quatro anos atrás tive o prazer de descobrir esta pérola da década de 70.
O Dust foi formado nos EUA e tinha em sua formação Richie Wise (guitarra, violão e vocal), Marc Bell (bateria) e Kenny Aaronson (baixo). O Power trio lançou apenas dois discos, sendo o impecável Hard Attack o mais conhecido. Encontramos aqui uma perfeita combinação entre o hard rock, o psicodélico e algumas pitadas de blues, o que deixa a audição mais interessante. A capa foi desenhada por Frank Frazetta, um dos maiores ilustradores mundialmente conhecidos, responsável por imagens clássicas como Conan e Tarzan. Como curiosidade vale citar que Richie Wise seria o primeiro produtor do KISS e que Marc Bell, anos mais tarde viria a fazer parte da mais emblemática banda PUNK de todos os tempos, os RAMONES.